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Ministros cinco horas a
discutir cortes in Expresso, sobre o Conselho de Ministros de segunda-feira, 31 de março
Maria Luís Albuquerque: Bom, de acordo com o manual de instruções que o
professor Vítor Gaspar me deixou quando saiu do Governo, é preciso fazer mais
cortes este ano.
Paulo
Portas: Impossível.
Não pactuarei mais com este saque. Estamos a ultrapassar fronteiras que me
recuso a transpor. Demito-me irrevogavelmente.
Passos Coelho: Está bem.
Até já. Então onde é que se há-de rapar
Paulo Macedo: Ó
Pedro, então o teu pai deu uma entrevista a dizer que o País está mal, pá?
Passos Coelho: A sério?
Vamos cortar-lhe a reforma. Já cortámos reformas?
Maria Luís Albuquerque: Esta semana, não.
Passos Coelho: Então
é isso.
Pedro Mota Soares: Eu tenho os bens dos velhos
portugueses todos inventariados, e parece-me que ainda há espaço para cortar.
Há um casal em Mafamude que tem 37 euros em moedas numa caixa de biscoitos, por
trás da máquina de café.
Passos Coelho: Têm uma máquina de café? Alguém anda
a viver acima das suas possibilidades. Diz-lhes para venderem isso no OLX e
ainda fazemos mais alguma receita.
Paulo
Portas: Então? Já há
decisões desagradáveis das quais eu me possa demarcar, usufruindo assim do
duplo benefício de estar no Governo enquanto ao mesmo tempo o critico?
Pedro Mota
Soares: Sim.
Há uns velhotes em Mafamude que vão ficar sem a máquina de café.
Paulo
Portas: Nunca!
Eu não transponho a fronteira da máquina de café. Demito-me irrevogavelmente.
Maria Luís Albuquerque: Está bem. Digam-me só uma coisa: estes cortes que
estamos a decidir hoje são secretos ou aquele meu secretário de Estado pode
revelá-los à Imprensa?
Marques
Guedes: Desculpem
interromper, tenho aqui o Marques Mendes ao telefone a perguntar se já decidimos
alguma coisa, porque ele vai fazer o programa na SIC em breve e ainda não tem
novidades para dar em primeira mão.
Passos Coelho: Agora
não, pá. Como é que estamos em relação àquela minha ideia de moer funcionários
públicos para almôndegas?
Paula Teixeira da Cruz: Parece que é inconstitucional.
Paulo
Portas: Para
almôndegas? Não era para hambúrgueres?
Passos Coelho: Mudou-se
para almôndegas.
Paulo
Portas: Nesse caso,
demito-me irrevogavelmente. Eu não transponho a fronteira da almôndega.
Maria Luís Albuquerque: Alguém vê algum sítio, no aparelho de Estado, onde se possa cortar um
gasto supérfluo?
Passos Coelho: Não me ocorre nada. Ainda ontem
estive a pensar nisso com o meu adjunto, que tinha falado com o seu assessor,
que tinha estado reunido com os seus três consultores, cada um dos quais tinha
nomeado um gabinete de estudos, mas nenhum deles chegou a qualquer conclusão.
Paulo Portas: Só se cortarmos mais reformas e
salários. Nem pensar. Demito-me. Desculpem. Isto vicia.
Fonte: http://visao.sapo.pt/historia-do-presente=f776399
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