O Pé Boto é uma deformidade congénita que infelizmente afecta 1 a 8 recém-nascidos em cada 1000. As causas não estão definidas, admitindo os entendidos que poderá existir uma influência genética importante.
É mais frequente nos rapazes e em 50% dos casos é bilateral, (afeta os 2 pés).
Ainda nem tinha 24 horas de vida e a J já estava a ser engessada, por um médico vindo de propósito do Hospital Egas Moniz, que pressupostamente sabia o que estava a fazer.
A nossa preocupação era como conseguiria a J andar?
Na 1ª troca de gessos (com apenas uma semana de vida), chegadas ao hospital vi algumas crianças com botas ortopédicas, que tinham sido operados ... e andavam... (uma luz ao fundo do túnel).
Mas a troca de gessos foi traumática, chorava eu, chorava a J, éramos 2 pessoas a tentar manter a J na maca, enquanto outro retirava os gessos com uma pequena "rebarbadora".
Sei que fiz imensas perguntas ao médico e nunca obtive nenhuma resposta. Só uma enfermeira, presente na sala se dignou falar, antes não o tivesse feito, respondeu-me "a sua filha é deficiente, que quer saber mais" e deu-me um panfleto.
Foi o pior dia da minha vida.
Nesse dia resolvemos pesquisar na internet e conseguimos entrar em contacto com uma blogger, contava a experiência do filho, tratado em Barcelona (hoje procurei o blog, mas não encontro, já passaram 9 anos....).
Telefonei-lhe. Não nos conhecíamos e só falámos desta vez. Não tinha conhecimento de que o método Ponseti fosse aplicado no Hospital Egas Moniz, apenas sabia que o método era reconhecido no Funchal (Dra. Cristina Alves) e no Hospital Garcia da Horta (Dra. Carolina Escalda).
Era importante tomar uma decisão: obter a opinião de outro médico, o que implicaria a remoção dos gessos, tendo que explicar ao clínico do Egas Moniz, caso a consulta corresse mal, que precisei de uma segunda opinião.
A filha era nossa, éramos nós os responsáveis pela sua qualidade de vida (disse-me alguém) .... por isso rumamos ao Hospital Garcia da Horta.
Aqui fomos muito bem recebidas, pela Dra. Carolina Escalda. Ficámos a saber que os gessos que a J não eram os indicados para este tratamento e estavam mal colocados!?!?! Resultado a J teve que fazer um gesso extra, de correção (fazer experimentações nos filhos dos outros é muito simples).

Se tudo correr como previsto os pés ficam corrigidos após 5 ou 6 trocas de gesso, trocados semanalmente e, em muitos casos, foi o caso da J, é feita uma tenotomia de Aquiles.
O último gesso é deixado por 3 semanas enquanto o tendão de Aquiles seccionado regenera no alongamento adequado.
Feito o tratamento dos gessos, passamos à 2ª fase: o bebé usa uns sapatos colocados numa posição específica e unidos por uma barra: o Brace de Abdução dos Pés (BAP).
A passagem dos gessos para a BAP terá sido possivelmente a fase mais difícil, depois do embate inicial.
Foi difícil para a J, porque teve que aprender a movimentar as pernas de forma coordenada - agora presas a uma barra. E para nós, porque exige perícia para colocar a barra de forma correta e rigidez de horários.
Usar correctamente o BAP, durante as horas indicadas pelo Médico é a única forma eficaz de garantir que o nosso bebé vai ser um adulto com pés normais!!!
Nos primeiros tempos a barra era usada 23 horas consecutivas ... a BAP era tirada 1 hora, o melhor momento do dia... a banhoca!!!
Com o passar dos anos, o período de descanso vai aumentando, mas nunca superiores a 6/12 horas (os períodos com a barra variam entre 12 horas e 18 horas, no mínimo).
A J teve um desenvolvimento chamado normal: gatinhou, sentou-se na idade que o tinha que fazer, andou aos 13 meses.
Retirada a BAP o acompanhamento continua a ser permanente, a J continua a ter consultas de rotina, porque a deformidade pode voltar.
Na minha opinião é crucial:
confiarmos no médico que acompanha os nossos filhos: ficaremos eternamente gratos à Dra. Carolina Escalda pela dedicação e disponibilidade, independentemente da hora do dia.
aceitarmos a doença é fundamental, não nos escondermos, nem escondermos os nossos filhos.
ser rigoroso nos horários e na aplicação da BAP, por muito que custe, tem que ser, disso depende o futuro dos nossos filhos.
A J nunca pediu para não colocar a barra! A BAP era a realidade dela, desde que se conhecia como gente, conseguia fazer tudo com a barra!! Para os adultos era mais complicado: alguns foram os olhares quando colocávamos a barra "em público", mas o foco é só um o sucesso do tratamento.
Entre muitas coisas, aprendemos que a nossa princesa (e as crianças em geral) tem uma capacidade de adaptação incrível. Que tudo o que para nós é um drama, para ela é simples!!!!
E quando estes seres tão pequeninos lutam como verdadeiros guerreiros, quem somos nós para baixar os braços!

Sem comentários:
Enviar um comentário